sábado, 3 de janeiro de 2004

Entao. Eh preciso dizer que a transicao da adolescencia aa fase adulta eh muito mais dolorosa do que a da infancia aa adolescencia. Pelo menos que eu me lembre. O problema eh que perde-se o alibi. Quando somos criancas, nossos erros se justificam porque somos criancas. Quando somos adolescentes, nossos erros se justificam porque estamos mesmo na fase de experimentar e desobedecer. Mas quando somos adultos, eh cada um por si e pimenta na vinagrete. Este blog vai falando mais ou menos sobre isso. Quem ja lia os meus blogs anteriores, acompanhou o meu amadurecimento. Agora podem ter a chance de me ver lutar com as consequencias. Eu gosto de pensar em mim como o acumulo das pessoas que fui, e nao uma pessoa nova que anula as outras que existiram. Para mim, por mais louco que isso possa parecer, existe ai em algum lugar a menina vestida de Mulher Maravilha, a pre-adolescente eternamente apaixonada, a jovem desencantada com o amor e essa adulta que eu sou agora, tendo que tomar decisoes, sofrendo por toma-las ou nao toma-las, tendo de lidar com os resultados de cada passo sem mais poder ignora-los ou protela-los. Por isso quando lembro dos meus medos, sonhos, amores e decepcoes, tento nao julgar aquela Marina dizendo "eu achava que amava, mas era mentira", ou "eu era tao boba". Porque aa medida que crescemos vamos esquecendo o impacto de cada coisa em nossa vida. E este eh um erro que eu tento evitar. Depois de catorze meses na Noruega, e de ter vivido muito mais e intensamente do que eu jamais pude imaginar, voltar ao Brasil tem sido uma experiencia louca. Voces vao logo perceber... Os lugares mudaram, as pessoas mudaram. Uma vozinha na minha cabeca me diz assim vez ou outra: "Como ousam as coisas acontecerem quando eu nao estou aqui pra assistir?". Paciencia. O mundo se move aa minha revelia. O espetaculo independe de minha plateia. Tenho reencontrado pessoas que ja foram grandes amigos ou grandes paixoes. E elas mudaram. Encontro antigos camaradas de farra cujos nomes jah nem me lembro. Um amigo casou. O outro eh pai. Aquele casal inseparavel dos tempos de colegio, separou-se. A amiga mais porra-louca virou seicho noie (nao sei como se escreve) e nem fala mais palavrao. O cara mimado hoje esta super consciente da realidade social. Um cara por quem tive uma queda, mudou de time. O movimento eh inebriante. E o mais louco eh que o mesmo vai acontecer - o mesmo choque, a mesma sensacao de que tudo pode mudar, e muda, esteja eu la ou nao para dar o meu aval. Ja vem acontecendo. Meu namorado mandou uma 3x4. Ele engordou alguns quilos, mudou o cabelo e deixou a barba crescer. "Como ousa?" Enfim. O bom eh que cada um esta feliz aa sua imprevisivel maneira. Crescer eh perceber com espanto que os cliches sao todos verdades. E finalmente entender com o coracao os lugares-comuns que escreviamos nas contra-capas dos cadernos de nossas adolescencias. Negocio da porra.
Imagem "emprestada" do site da Amy Dreier

Nenhum comentário: