domingo, 25 de janeiro de 2004

Ok. Ha milenios que nao escrevo. Mas eh que... eu tenho tido muito o que fazer, muito o que sentir e muito o que pensar. E posto todo esse muito o que sentir em segundo plano, pra nao atrapalhar o que eu tenho que fazer e pensar. Pessima estrategia para quem tem sindrome do panico. Sim, queridos, tenho sindrome do panico. O que significa uma depressao quimica associada a uma "superatencao" aos sinais normais do corpo humano, transformando o que seria uma uma simples hipocondria num pesadelo somatizado. Basicamente, tenho os sintomas de tudo o que ha de nojento no mundo das patalogias, mas nada disso eh real. O meu cerebro provoca em mim as dores mais violentas e aterrorizantes. Mas nada disso eh verdade. Eh um tipo de crise de ansiedade elevada ao cubo. Faco o tratamento, sou acompanhada por psiquiatra, terapeuta, tomo bolinhas, etc. Mas volta e meia bate uma crise foderosa, dessas que eu nao consigo controlar, e eh um desespero. Tem cura pra isso. Eh nela que eu estou investindo. O problema eh que eh um processo demorado e minha natural falta de paciencia nao facilita a historia. Crescer eh complicado. Ha muitos livros que falam sobre a dificil passagem da infancia pra adolescencia... mas ninguem me havia prevenido sobre a dor de passar aa fase adulta. Uma dor gostosa, mas ainda assim... AAAAAAAAAAAAAAGGGHHHHHHHHHHHHHH Tem um conto de fadas noruegues no qual um dos personagens tem dentro de si quatro primaveras e sete invernos. Eu me sinto assim de vez em quando. O Namorado eh um doce. Um doce mesmo. Mas essa foi uma observacao aleatoria. Esta sendo dificil ficar longe dele. Ate de ouvir as besteiras dele. Sinto falta das besteiras dele. Nam. Tenho que escrever tantas coisas... Mas por enquanto esta tudo emaranhado na minha cabeca, como os colares que guardo em desordem num bauzinho. Fico com medo de puxar um pensamento para que as suas micangas nao se espalhem pelo chao e eu nao tenha ainda mais trabalho... Vou com calma. Por enquanto, vai um texto. -- PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO¹ "Dans mon pays de fiel et d'or j'en suis la loi."² E. Verhaeren Leitor: Está fundado o Desvairismo. Este prefácio, apesar de interessante, inútil... Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou. Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste prefácio interessantíssimo. Aliás, muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar dumo só vez das teorias avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem. Mário de Andrade. ____________________________________ 1 - "No meu país de fel e de ouro, eu sou a lei", em francês 2 - Introdução à Paulicéia Desvairada, primeiro livro de poesias gerado em torno da Semana de Arte Moderna. Trata-se de uma espécie de manifesto, que de maneira irônica, teoriza sobre a nova estética apresentada no livro. --

quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

As vezes os dias vem tao cheios de informacao e coisas e novidades que eu tenho a impressao que, pra caber no prazo mesquinho de 24h, ele tem que vir "zipado". Tive tres ou quatro dias zipados, um atras do outro. Puta sobrecarrego... Tem tempo que nao escrevo nada literario, por assim dizer, e acho que isso esta tendo efeitos estranhos no meu comportamento. Na verdade eu, grafomaniaca inveterada, estou tendo um periodo de abstinencia grafica. Ate para escrever uma carta ou cartao postal (para que tenho um talento quase sobrenatural, rapidez e criatividade estupendos, seja la quem for o destinatario) demoro dias e dias e dias. Dias para responde um e-mail! Tem um e-mail do querido colega Tiago, genio das historias em quadrinhos, que nao consigo responder ha quase dois meses. E pra escrever aqui no blog, mais um suplicio. Ate com o Namorado, as coisas tem sido meio que na base do torpedo. Por falar nele, acho que o Namorado me fascina e assusta tanto porque ele eh o contrario dos homens que costumo criticar, em muitos aspectos. Bom, se voces leram o meu post no www.satisfacaum.blogspot.com , sobre a crise de Cinderella, saberao que ele nao eh tao perfeito... Mas ele, ao contrario da maioria dos machos que conheco, corre PARA o relacionamento. Soh conheco poucos homens que sao assim. Pensando com calma, todos eles sao piscianos. Talvez tenha alguma coisa a ver. Se bem que... eu sou pisciana e corro DO relacionamento como Al Capone corre do imposto de renda. Nao sei o que o Namorado fez, mas ele conseguiu me pegar de jeito... 7 meses de relacionamento serio e fiel ... moramos juntos quando estou na Noruega... conheci familia... bla bla bla... Eu, hein. --- Email 1 De: Namorado Para: Marina Babes, renovo o contrato do apartamento, ou a gente se muda? Babes. --- Email 2 De: Marina Para: Namorado Ah, eu adoro o ape. Voce que sabe. A localizacao eh perfeita. Por mim, renova. m,m --- Email 3 De: Namorado Para: Marina Ok. Te amo. Saudades. Babes --- Email 4 De: Marina Para: Namorado Babes, andei pensando melhor. Nao posso usar seu endereco como residencial*, e nao vou de jeito nenhum mentir pras autoridades norueguesas por dois anos. Mas isso eh problema meu, nao se estresse com o ape; qualquer coisa, a gente volta a morar separado, na boa. te amo m,m --- Email 5 De: Namorado Para: Marina Pare com isso. A gente da um jeito nessa historia de apartamento. Eu nao tenho nenhum interesse em ser seu "namorado" de novo. Babes --- Email 6 De: Marina Para: Namorado Como assim? No more namorado ?? :( m,m --- Email 7 De: Namorado Para: Marina Bom, se namorado eh aquela pessoa que voce ve duas, tres vezes na semana quando sobra tempo, nao. Gosto de pensar que sou mais que isso pra voce. Babes --- Email 8 De: Marina Para: Namorado Ah, tah. Voce eh mais que isso, querido. Voce eh um namorado que eu amo. Entao, ok, voce sera promovido de Meu Namorado a Meu Amorzinho. Beleza? m,m --- Email 9 De: Namorado Para: Marina Tah bom. Entao eu sou seu Amorzinho... Babes

sábado, 3 de janeiro de 2004

Entao. Eh preciso dizer que a transicao da adolescencia aa fase adulta eh muito mais dolorosa do que a da infancia aa adolescencia. Pelo menos que eu me lembre. O problema eh que perde-se o alibi. Quando somos criancas, nossos erros se justificam porque somos criancas. Quando somos adolescentes, nossos erros se justificam porque estamos mesmo na fase de experimentar e desobedecer. Mas quando somos adultos, eh cada um por si e pimenta na vinagrete. Este blog vai falando mais ou menos sobre isso. Quem ja lia os meus blogs anteriores, acompanhou o meu amadurecimento. Agora podem ter a chance de me ver lutar com as consequencias. Eu gosto de pensar em mim como o acumulo das pessoas que fui, e nao uma pessoa nova que anula as outras que existiram. Para mim, por mais louco que isso possa parecer, existe ai em algum lugar a menina vestida de Mulher Maravilha, a pre-adolescente eternamente apaixonada, a jovem desencantada com o amor e essa adulta que eu sou agora, tendo que tomar decisoes, sofrendo por toma-las ou nao toma-las, tendo de lidar com os resultados de cada passo sem mais poder ignora-los ou protela-los. Por isso quando lembro dos meus medos, sonhos, amores e decepcoes, tento nao julgar aquela Marina dizendo "eu achava que amava, mas era mentira", ou "eu era tao boba". Porque aa medida que crescemos vamos esquecendo o impacto de cada coisa em nossa vida. E este eh um erro que eu tento evitar. Depois de catorze meses na Noruega, e de ter vivido muito mais e intensamente do que eu jamais pude imaginar, voltar ao Brasil tem sido uma experiencia louca. Voces vao logo perceber... Os lugares mudaram, as pessoas mudaram. Uma vozinha na minha cabeca me diz assim vez ou outra: "Como ousam as coisas acontecerem quando eu nao estou aqui pra assistir?". Paciencia. O mundo se move aa minha revelia. O espetaculo independe de minha plateia. Tenho reencontrado pessoas que ja foram grandes amigos ou grandes paixoes. E elas mudaram. Encontro antigos camaradas de farra cujos nomes jah nem me lembro. Um amigo casou. O outro eh pai. Aquele casal inseparavel dos tempos de colegio, separou-se. A amiga mais porra-louca virou seicho noie (nao sei como se escreve) e nem fala mais palavrao. O cara mimado hoje esta super consciente da realidade social. Um cara por quem tive uma queda, mudou de time. O movimento eh inebriante. E o mais louco eh que o mesmo vai acontecer - o mesmo choque, a mesma sensacao de que tudo pode mudar, e muda, esteja eu la ou nao para dar o meu aval. Ja vem acontecendo. Meu namorado mandou uma 3x4. Ele engordou alguns quilos, mudou o cabelo e deixou a barba crescer. "Como ousa?" Enfim. O bom eh que cada um esta feliz aa sua imprevisivel maneira. Crescer eh perceber com espanto que os cliches sao todos verdades. E finalmente entender com o coracao os lugares-comuns que escreviamos nas contra-capas dos cadernos de nossas adolescencias. Negocio da porra.
Imagem "emprestada" do site da Amy Dreier